Junho 28, 2015
Filipa Iria
É provavelmente a pessoa com quem mais choco. E também com quem mais grito. E aperta-me o coração instantes depois de o fazer. Não tem sido uma vida fácil e muitas das vezes descarregamos nos outros. Neste caso, ela em mim e eu nela. A vida tem sido uma constante batalha. Luta atrás de luta. Desde sempre que sobrevive. E arrisco a dizer que a maioria das vezes nem tem vontade de o fazer. Rodeada de doenças e pedras no caminho, o sorriso na cara e a força de viver não tem sido os seus melhores amigos. Tenho recordações de quando ainda vivia num mundo a cores. Entre o trabalho, a lida da casa, os passeios e as saídas com as amigas. Nesse tempo ela era outra. Que já não existe. Os anos desgastaram-na e dobraram-lhe a idade no rosto. A força foge-lhe das pernas e dou com ela a perder todo o seu equilíbrio. Dou por mim a imaginar a minha vida sem ela, e simplesmente, é impossível. O meu coração sufoca só de imaginar. Um dia ela cuidou de mim. Com paciência e amor ensinou-me tudo o que eu sei hoje. Hoje, tenho de fazer o mesmo. Se eu pudesse e tivesse poder para tal, fazia destes dias, dias melhores. Desta vida, uma vida melhor. Mas não está ao meu alcance. Mas posso cuidar. Posso agarrar quando a força escapa. Posso aconselhar quando a cabeça já não responde como deveria. Posso e vou. Sempre. O meu coração fica tão pequenino quando penso que os anos passam mais rápido do que nós conseguimos imaginar.