Março 03, 2016
Filipa Iria
Deveria estar concentrada em reis, equações, tabelas periódicas ou nos Lusíadas. Mas a minha cabeça estava longe, muito longe daquelas salas, dos professores e até mesmo das pessoas que me rodeavam. Eu estava ali, mas a minha mente não parava um minuto. Naquela idade era suposto não haver preocupações. Mas a vida escolheu diferente. Eu tinha-as. Muitas. Penso para mim mesma que cresci rápido demais, nesse sentido. Aprendi cedo que aquilo que a vida nos dá, também nos tira. Que nada nem ninguém na nossa vida é garantido. Que hoje podemos ter e amanhã já não. Consigo recuar no tempo e descrever detalhadamente os dias mais tristes que já vivi, mas não o faço. Tinha apenas catorze anos. Apenas catorze anos. Ninguém, em idade alguma, está preparado para lidar com a perda de alguém. Permitam-me dizer, com a morte de alguém.
Hoje, praticamente nove anos depois de perder o meu pai, permito-me ficar triste uma ou outra vez. Escrevo-lhe muito também. Ajuda-me. Não superei, mas aprendi a viver com a dor. Há dias que a saudade fala mais alto, é verdade. Mas vamos vivendo, com a ausência, com a falta, mas vamos vivendo. Nas datas especiais, em ocasiões especiais, desejamos que aquela pessoa estivesse ali a celebrar connosco, a orgulhar-se de nós. Nesses momentos dói. Dói muito. Mas também nos dá muita força. Para me esforçar, me empenhar e o orgulhar.
Quando perdemos alguém aprendemos a viver com um aperto no peito. Que não passa. Um vazio. Que ninguém preenche. Uma dor que o tempo não apaga, mas que apazigua.